Esse
é um pensamento bastante comum. Se algo é extraordinário, peculiar ou estranho,
não “acontecerá comigo”. Imaginamos o universo girando ao nosso redor. Imaginamos
que somos especiais e é por isso que doenças/perigos/acasos/desastres “não
acontecerá comigo”. Só com os outros. Pois os outros são os outros e é o que
vejo no jornal. Sempre uma história de alguém que nunca vi.
Até
tinha esse pensamento comigo, até quando o inesperado “aconteceu comigo”.
Parece história de cinema de tão peculiar que foi. Então, se me permitem,
compartilharei o que ocorreu.
Estava
de férias com minha família em São José, Santa Catarina. Às vésperas da nossa
viagem de retorno para Belém, e então Capanema no Pará, meu filho mais velho
começou a passar mal. Enjoo, dor de barriga, falta de apetite. Todos começaram
a se perguntar o que será que ele tinha comido para sentir aquelas coisas. A
culpa caiu em cima de um suco de laranja e um ovo frito. Malditos.
Tomou
remédio, mas os sintomas não arrefeceram. A saída era ir para o hospital. A
viagem seria na madrugada. Era importante ele melhorar para seguir viagem e
então, uma vez no destino, consultaríamos na urgência. Afinal, era apenas uma
dor de barriga, no máximo uma intoxicação alimentar. Quem nunca passou por um
episódio em que “a comida não caiu bem”?
A
dor arrefeceu, após vários remédios. Uma médica chegou a especular que aquilo
seria emocional, já que estávamos de partida, as férias estavam chegando ao
fim, e o retorno de um local tão bonito e divertido teria tal efeito na criança.
Achamos estranho, conhecemos nosso filho, ele nunca foi de ter essas crises
emocionais.
Sentindo-se
melhor conseguimos embarcar. Seria uma viagem de cerca de seis a sete horas de
Florianópolis até Belém, com uma conexão em Guarulhos.
Foi
no avião que a história começou a mudar realmente. Meu filho voltou com os
sintomas, só que dessa vez mais severos. A dor era tão intensa que ele estava
quase desfalecendo-se. Pousamos na conexão e corri para o posto médico do
aeroporto com ele em meus braços, pouco me importando com quem estava ao meu
redor ou em quem esbarrava. Queria um médico para ver o que meu filho tinha!
Quando
o médico o examinou disse as palavras que eu nunca esperava que fosse escutar
em minha vida, durante uma viagem, pior ainda, em um local em que não tinha
família e qualquer apoio: “Ele está com uma inflamação na região da barriga,
deverá ser removido para um hospital”.
Aquelas
palavras nos derrubaram. Isso já tem alguns anos, mas lembro perfeitamente todo
o processo. A espera no aeroporto, a remoção de ambulância para o hospital, a
espera no hospital, a ausência de comunicação com minha esposa que entrou com
nosso filho (eu tinha perdido meu celular em um parque de diversões famoso de
Santa Catarina), até a chegada da (outra) notícia: “Seu filho está com
apendicite e está indo para a sala de cirurgia nesse momento”.
Cirurgia
durante a conexão.
Caso
a minha vida fosse uma série de televisão assim seria o título desse episódio.
Foi
aí que repensei a ideia de que “isso nunca vai acontecer comigo”. É um mito,
uma trapaça da mente humana. Sim, tudo é possível de acontecer com você. Quem
diria que meu filho, em viagem, na volta das férias, em uma conexão, tivesse
que realizar uma cirurgia?
O
episódio, além de me ensinar uma nova mentalidade, instaurou em mim uma noção
muito maior de empatia, principalmente para aquelas pessoas que estão sofrendo
por alguma coisa que ocorreu em suas vidas.
Tudo
ocorreu bem, apesar dos grandes percalços, passamos 11 dias em Guarulhos, e
voltamos pra casa com um aprendizado. Sim, é possível que aconteça comigo.
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